sábado, 7 de novembro de 2009

TECNOLOGIA - O FUTURO DAS REDES SOCIAIS

Futuro das redes sociais está no conhecimento e não no comércio, diz diretor-geral do Google
Alex Dias acredita que brasileiro gosta de se relacionar na internet porque já é sociável no “mundo real”

Algumas pessoas podem até ganhar dinheiro com as redes sociais, mas isso não será algo decisivo para o crescimento desse tipo de site. A opinião é de Alex Dias, diretor-geral do Google no Brasil – a empresa é dona do Orkut, portal de relacionamento mais acessado do país. Na visão do executivo, o futuro das redes sociais está mesmo na troca de conhecimento, mesmo que em áreas bastante específicas.

Nessa entrevista ao R7, ele fala dos planos para o site e de como a empresa atravessou a crise econômica mundial.

R7 - Hoje o Orkut enfrenta uma concorrência forte de sites como o Twitter ou o Facebook e aqueles usuários mais “antenados” já não se interessam tanto pelo serviço de vocês. Como vocês encaram isso?

Alex Dias - É lógico que hoje enfrentamos uma concorrência muito grande, com sites muito populares, mas estamos mantendo o número de acessos no Google mesmo assim. Dados sobre o Orkut indicam que a distribuição de usuários é bastante uniforme – é um site muito popular entre pessoas que têm de 18 a 50 anos, não é uma coisa só de nicho. Aliás, as pessoas de 39 a 59 anos representam 25% dos usuários do Orkut. A plataforma tem crescido e continua sendo uma rede social muito relevante.

E o cara pode ter Orkut, Facebook: o que vai definir quem ganha essa corrida, quem escala mais rápido, é a usabilidade, as ferramentas que os engenheiros criarem para os usuários.

R7 - Vocês já conseguiram explicar porque os brasileiros gostam tanto de redes sociais?

Dias - Nós temos várias discussões internas sobre isso. A minha explicação é que você junta um povo bastante sociável, com uma capacidade incrível de gerar conteúdo e uma necessidade de mostrar essa cultura, mas que ao mesmo tempo sempre teve dificuldade de viver num mundo unidimensional [em que não é possível interagir]. O brasileiro tem um elemento social e uma produção cultural muito forte, daí a quantidade de blogs que temos, de gente que quer se expressar.

R7 - Então o brasileiro leva para o online o mesmo estilo social que tem no offline...

Dias - Ele encontra mais possibilidades no online do que na vida social offline. Antes, as pessoas liam as mesmas revistas, assistiam ao mesmo programa e iam para o bar e comentavam. Hoje elas fazem comunidades sobre interesses comuns. E nisso há muito a ser feito. Você vai ter redes sociais baseadas em conhecimento, que explorem bem uma determinada área: hoje, se o cara quer conversar sobre botânica [estudo científico das plantas], ele vai achar comunidades de pessoas que gostam de flores, mas ele queria mesmo era conversar sobre botânica, algo mais específico, aprofundado.

R7 - E a possibilidade de as pessoas ganharem dinheiro com isso? Há internautas que usam o Orkut para vender e anunciar produtos.

Dias - Quando você fala sobre produtos há uma coisa interessante que é o fato de existirem pessoas falando sobre o seu produto, que usam o tempo para fazer isso. É melhor ter 2.000 falando sobre o que você produz do que ter 2 milhões de pessoas que só ficam sentadas olhando.

R7 - Mas isso pode ser algo marcante nas redes sociais? Algo que possa ser disseminado e realmente crie um mercado de vendas por esse tipo de site?

Dias - Não acho que isso vá ser um drive, algo que seja importante mesmo para as redes sociais, algo que ganhe escala para ser transformador. Pode ter umas cem pessoas fazendo comércio de um determinado item, mas vai ter sempre uma Amazon [loja norte-americana de produtos online] com uma força para fazer isso de forma mais eficiente. Não vejo a questão de ganhar dinheiro como algo que vai ser algo decisivo para as redes sociais.

R7 - No fim do ano passado, depois da intensificação da crise econômica mundial, você dizia que esse período difícil para o resto das empresas seria, na verdade, uma oportunidade para o mercado de internet e o Google em especial. Isso acabou se materializando na prática?

Dias - Não posso dar detalhes sobre os resultados em si, mas posso dizer sim que a tese que se concretizou. Mundialmente, o Google mostrou que tem muita resilência. Fomos a única das grandes corporações que cresceu – cresceu menos, mas cresceu Como o Google tem um modelo de negócios baseado em publicidade, era obvio que se esperasse uma queda, mas isso não se concretizou. Tomamos a iniciativa de continuar investindo em tecnologia, investindo em produto. Os produtos que fechamos [como o aplicativo de realidade virtual Lively, concorrente do Second Live], teríamos fechado de qualquer maneira.

R7 - Como você vê essa situação no Brasil?

Dias - No Brasil, você coloca uma economia que realmente está passando muito bem pela crise. Você tem um efeito disso que é o fato de a operação brasileira ter uma exposição muito maior, um crescimento que está entre maiores do mundo – já era no pré-crise, mas isso se intensificou. Hoje nós temos uma atratividade muito maior dentro do Google. Os números, a métricas estruturais, avançaram muito, tanto no volume de buscas, quanto na adoção de plataformas como o YouTube, em que o Brasil está entre os cinco primeiros no tráfego que existe no site. O que aconteceu foi que o Brasil acelerou no crescimento dentro do Google, já que cresceu bastante enquanto outras operações mais maduras, como Europa e Estados Unidos, desaceleraram.
Sem falar do Google em si, eu senti que foi neste ano que os grandes anunciantes despertaram totalmente para a internet.

R7 - Isso se deve à questão do custo, de ser mais barato investir em internet?

Dias - Isso é uma função de mercado. O preço cobrado hoje pela publicidade na internet é justo – se hoje custa 10 centavos e amanhã vai custar US$ 10 é o mercado quem vai dizer. Mas na medida em que você vê os orçamentos, fala com os anunciantes, dá para ver que o volume de investimento na internet ainda é pequeno, mas está crescendo à medida que aumenta a audiência da rede. Ainda temos um longo caminho a percorrer.

R7 - Vocês têm casos interessantes de produtos que são muito populares, mas não dão lucro. O Orkut vai finalmente se pagar em 2009?

Dias - Não posso comentar os resultados do Orkut, mas o processo de monetização do Orkut começou no fim do ano passado e está indo muito bem. O Orkut tem escala mundial e registra um crescimento em várias partes do mundo. O projeto de monetização, que também é global, está cumprindo o que estava prometido.

R7 - Falar de publicidade em rede social é complicado porque muitos usuários reclamam, ficam melindrados de o site estar sendo “vendido”. Como o Google vê essa questão?

Dias - O que a gente vê é que na internet o cliente tem voz, é alguém inquieto, com uma propensão de opinar muito maior do que na TV, em que ele só pode mudar de canal. Então nós tentamos ser ativos, perceber onde as pessoas prestam atenção, queremos ouvir do usuário se a localização daquele anúncio ajudou ou atrapalhou o usuário. A publicidade tem que ter relevância. O próprio caso do sistema de links patrocinados nas buscas do Google é um exemplo disso: ela traz para o internauta algo que está relacionado ao que ele está buscando, é algo relevante para ele.
Fonte: www.r7.com

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