quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O CLAMOR DA MULTIDÃO!

Sou apenas a multidão desprovida e desprotegida, nesta terra brasileira!

Observo a caminhada diária deste Brasil, empurrando por mim, cumpridora e seguidora das leis criadas por cidadãos, semelhantes meus.
Neste rolo compressor do percorrer sem fim, gemo, choro e clamo por dias melhores, vivendo e convivendo com a esperança tão longínqua.

Pobres filhos desta terra, pobres filhos do Brasil!

Esfomeada aqui, maltrapilha ali, renegada acolá, grio ao redor da pirâmide, ansiosa por galgar degraus na escala social, mas em vão.

Limitada pelas leis que me cerceiam, impedindo o meu desabrochar; cercada pelos limites das posses individuais que me comprimem em
lugares empobrecidos, improdutivos ou insalubres, sinto-me encurralada ao degradante viver: salário aviltante, desemprego abundante,
preço exorbitante; educação pré falida, segurança decaída, saúde enfraquecida.

E mais: empurram-me cesta básica como sendo o essencial, sem direito a mais nada, igualando-me ao animal. Abro mão da higiene, do
remédio e do saber, da minha roupa e do calçado pra poder sobreviver.

É triste mas é verdade: desconheço a vaidade!

Esta é a terra brasileira, do povo do Brasil, heróico ao seu modo, mas não mais tão varonil! E penso: Por que acolá há riqueza e aqui
tanta pobreza? Que homem, que lei humana transformará este lugar em país maravilhoso para viver e morar? Onde encontrar um homem que
possa matar-me a fome, dando-me o necessário? Que lei, que ordem, que força, poder, magia ou milagre alguém pode operar? Como eliminar
a miséria se não há vontade de fato? Se incentivo o sucesso e em troca vejo o fracasso?

Não vejo homem virente que possa ajudar a gente a sair do lamaçal! Quem tem poder é omisso, nada de compromisso neste país tropical!

Cansada e já ofegante, paro por um instante e me ponho a refletir: o que mais há de vir?
Ouço, então, um sussurro e um vozeirão no escuro fala com ironia: "Multidão, multidão, por que clamas tanto assim? Que mais queres ter?
O que mais queres na vida senão enfrentar a lida para sobreviver? Dá-te por satisfeita! Teu destino é este mesmo: esperar com alegria
chegar dia, o dia de tua grande sorte! Será o derradeiro dia, o dia de tua escalada para o degrau da morte".

A multidão.

Leo Bravin

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