segunda-feira, 2 de março de 2009

DICAS DE ECONOMIA DOMÉSTICA DE UM EX-RICO

As Dicas Básicas

Minha vida já teve muitos altos e baixos. Ser rico e virar pobre é uma das experiências mais enriquecedoras pelas quais alguém pode passar. Aprendi muito - especialmente que se sustentar é bem mais fácil do que eu imaginava, se você souber economizar, diminuir os gastos e não ser consumista.
Hoje, passo sete meses por ano nos Estados Unidos, em Nova Orleans, onde sou estudante profissional e vivo de bolsa. Passo cinco meses por ano no Brasil, no Rio, onde me viro como posso, faço trabalhos de consultoria em Internet, traduzo, pego uns bicos.
O dinheiro da bolsa serve para eu viver monasticamente durante os sete meses que passo nos EUA: divido uma casa, não tenho carro, vou a pé pro trabalho, não como fora, não compro livros, CDs, DVDs. Troco de computador nos anos pares (cerca de US$1.000) e de óculos nos ímpares (cerca de R$600). Como gosto de cozinhar e comer saudável, gasto cerca de US$400 por mês de supermercado - o que é um absurdo, mas também o melhor investimento do mundo. Meus outros gastos mensais são: US$180 de telefone (cartão telefônico internacional, celular, internet), US$350 de aluguel, US$100 de táxi, US$100 de luz/gás/água, US$60 de plano de saúde, US$25 de Netflix. Ou seja, vivo muito bem, com acesso a uma excelente biblioteca, comendo bem, fazendo exercício, vendo filmes a vontade, por cerca de US$1200 por mês, ou US$8000 por ano.
Com o tempo, fui desenvolvendo uma série de hábitos para ajudar na transição para a nova vida.

Amigos recém-pobres vivem me pedindo conselhos. Então, aqui vai.

Um aviso: são sugestões bem radicais, da época em que fui à zero e tive que mudar tudo. Individualmente, cada uma é interessante mas, se não estiver no mesmo buraco que eu, não precisa adotar todas. Vale a pena também para tentar criar uma nova cultura de consumo, menos imediatista e mais ponderada.

* * *- Corte tudo o que puder ser cortado.
Tudo mesmo. Cancele a terapia, as aulas de dança, a assinatura do site pornô, da TV a cabo, da revista semanal, tudo. Depois, a medida que for sentindo mais falta de uma ou outra coisa, vai começando de novo, uma de cada vez, aos poucos. Ou seja, jogando o ônus do trabalho em refazer o serviço, não em cancelar.
Muitos dos seus antigos gastos fixos não tinham nada de fixos, eram puro hábito, coisas que não vão fazer a menor falta na sua vida. Por outro lado, suas prioridades vão ficar mais claras: pode perceber que, sem a TV a cabo, tornou-se um novo homem, com mais tempo livre e mais disposto, ou também pode perceber que não consegue dormir sem ver documentário do Discovery, vira a noite e fica um bagaço no dia seguinte. Não existe resposta certa: só você pode saber quais são as coisas sem as quais não consegue viver.
Mas, pra isso, é preciso antes passar um tempo sem elas.

* * * - Saia de casa sem cartão de banco e sem cartão de crédito.
Leve apenas, por segurança, o dobro de dinheiro vivo que precisaria em um dia comum. Fazendo suas compras em dinheiro, você vê as notas fisicamente saindo da sua carteira, o que torna a perda delas algo mais real e concreto. Por outro lado, compras com cheques ou cartões são virtuais, abstratas, traiçoeiras. A maioria dos shopping centers não tem janelas, pois não querem que o cliente veja o tempo passar. Comprando virtualmente, os gastos se acumulam discretamente e você às vezes só percebe que está quebrado quando chega no seu limite.

* * *- Nunca, nunca, nunca compre nada de primeira, no impulso.
Experimente a roupa, namore o livro, visualize o sofá na sua sala... e vá embora. Saia correndo da loja e não olhe pra trás. Você vai rapidamente se esquecer de quase todos seus objetos de desejo, talvez até pensando com alívio "ainda bem que não comprei aquela joça!". Alguns, entretanto, vão continuar na sua cabeça: nesses casos, não precisa ficar sofrendo. Vai lá e compra.
Esperando um pouco, você evita as compras de impulso e paga apenas pelas coisas que realmente quer.
Transfira o ônus da ação para o ato de comprar: se realmente quiser aquele objeto, então vai ficar pensando nele um ou dois dias e vai valer a pena o trabalho de voltar até a loja para comprá-lo. E, se não valer, é porque não valia a pena o custo também. Esquece.

* * *- Arranje uma medida de conversão.
O real é uma medida muito abstrata, uma convenção que, no fundo, como todas moedas, não significa nada - ainda mais se você faz a maioria das suas compras virtualmente, com cheques ou cartões. Uma boa medida de conversão pode ser ou uma hora do seu trabalho, ou alguma coisa que você compre muito.

Por exemplo, na minha fase mais pobre, eu ganhava R$7 por cada aula de uma hora. Então, quando via um belíssima nova edição de Moby Dick, da Cosac Naify, por R$100, ficava cheio de tesão pra comprar, mas pensava: "será que vale mesmo a pena trabalhar por 15 horas pra comprar um livro que posso ler de graça na internet, pegar na biblioteca ou emprestar de alguns dos meus trocentos amigos que devem ter?"

Outra boa medida de conversão é algo que você precise comprar sempre e que seja essencial pra você. No meu caso, usava o quilo do filé de frango, que era o que eu mais comia e que também custava mais ou menos R$7. E pensava: "o que vale mais a pena comprar: a nova edição de Moby Dick ou 15kg de frango? Por quanto tempo eu posso ficar comendo esses 15kg de frango sem me preocupar em comprar mais comida? Afinal, eu vou ler mesmo esse livro?"

Tenho uma amiga que morria de rir de eu converter o preço de tudo para quilos de frango ("sério, não vou dar 10kgs de filé de peito pra ver essa banda tocar, não!") mas o que importa é ser uma medida de conversão que faça sentido para você, para tornar os seus gastos mais reais, concretos e mensuráveis.

* * *- Anote todos os seus gastos e coloque-os em uma planilha.
Além de ser um hábito saudável que vai te fazer pensar melhor antes de gastar, pode ser impressionante descobrir quais são as maiores fontes da sua sangria financeira. Por exemplo, percebi que economizava como um louco, comia em maus restaurantes, etc, mas acaba gastando mais nas várias paradas pra um lanche, um cafezinho, um suco, etc, do que nas refeições propriamente ditas. Os gastos pequenos que se acumulam acabam sendo os mais perigosos.

Fonte: O dinheiro

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